Criações artísticas produzidas entre 2017 e 2022, a partir das pesquisas realizadas e fomentadas pela Viva Pelve ®
Jibóia
vídeo
2022
Jibóia é uma obra audiovisual que através do corpo traça uma narrativa mítica, política e erótica. O trabalho compreende o fazer artístico e a prática espiritual uma só coisa, de modo que sua dança pode ser vista como oferenda, ação devocional, agradecimento e ato mágico. Jibóia prevê a sexualidade como ferramenta de transformação, e compreende os processos vivos dentro do contexto urbano e ambiental. As entidades que neles habitam, suas forças anímicas e seus poderes de atuação se fazem presentes no decorrer da obra. Se trata também das experiências de um corpo miscigenado e racializado, na incessante busca por identidade, memória, corporificação e linhagem.
dança, criação e direção • Dora Selva
imagem, montagem e direção • Louise Botkay
trilha sonora • Yasmin Zyngier
assistência de movimento • Luana Bezerra
poesia e vozes • Sara Hana
identidade visual • Pablo Meijueiro
visagismo • Rafa Fernandez
color •Camila Picolo
mixagem • Angelo Wolf
figurino • VERKKO, Célia moda fitness, Mestre Espedito Seleiro
apoio • Salão Azul
CHEIA • virtual
performance online
2020
CHEIA é vazante maré fertilidade violência fecundar parir entregar abençoar cercar proteger iluminar banhar rebolar tremer vibrar incorporar ovular sofrer. É sobre ser movida por uma força, sobre o poder do próprio corpo, o poder das ancas, o movimento do mundo, a espiral cósmica, a circularidade. Entidades, deusas, elementais, carne, natureza, energia, transmutação. O corpo como ferramenta política.
Criação e Performance • Dora Selva, Ayeska Ariza, Luana Bezerra, Ibis Lima, Iná Farias, Lis Kogan e Lorena Pipa.
Criação Sonora/transmissão ao vivo • Yasmin Zyngier
Criação visual/edição ao vivo • Isabel Scorza
Teaser • Michele Nagy
CHEIA
performance solo
2019
Ativação da obra Corpo Fechado, de Marcela Cantuária, em sua exposição individual Saturar Libertar, Centro Cultural Municipal Hélio Oiticia, Rio de Janeiro.
Criação e Performance • Dora Selva
CHEIA • multipla
performance
2019
CHEIA • múltipla é Dora Selva, Luiza Paranhos, Nicole Gomes, Iná Farias, Gabriela Faccioli, Lis Kogan, Lara Fuke, Yasmin Zyngier, Barbara Tavares, Isabel Scorza, Michele Nagy.
Performada no Festival Corpos Criticos, Rio de Janeiro.
O poder das ancas
performance solo
2018
Exposição Monumental #3
Exposição coletiva Fosso
Criação e Performance • Dora Selva
Inspirada no texto O Poder Das Ancas, de Clarissa
Pinkola Estés.
"O que constitui um corpo saudável no mundo instintivo? No nível mais básico – o seio, o ventre, qualquer parte onde haja pele, qualquer parte onde haja neurônios para transmitir sensações - a questão não é a do formato, do tamanho, da cor, da idade; mas, sim, se existe sensação, se funciona como deveria, se temos reações, se temos todo um leque, todo um espectro de sentimentos. Ele tem medo, está paralisado pela dor ou pelo receio? Está anestesiado por traumas antigos? Ou será que ele tem sua própria música? Está ouvindo, como Baubo, através do ventre? Está olhando com uma das suas inúmeras formas de ver?
Passei por duas experiências decisivas quando estava com vinte e poucos anos, experiências que contrariavam tudo o que me haviam ensinado sobre corpo até então. Quando estava num seminário de uma semana de duração para mulheres, à noite, junto ao fogo e perto de fontes termais, vi uma mulher nua, cerca de 35 anos. Seus seios estavam murchos de amamentar; seu ventre, estriado de dar a luz. Eu era muito nova e me lembro de ter sentido pena das agressões sofridas pela sua pele fina e clara. Alguém estava tocando tambores e maracás, e ela começou a dançar, com o cabelo, os seios, a pele, os membros todos se movimentando em direções diferentes. Como era linda, como era cheia de vida. Sua graça era de partir o coração. Eu sempre havia ridicularizado a expressão “furacão nos quadris”. Naquela noite, porém, vi um exemplo. Vi o poder de suas ancas. Presenciei o que me haviam ensinado a ignorar: o poder do corpo de uma mulher quando é animado de dentro pra fora. Quase três décadas mais tarde, ainda posso vê-la dançando no escuro e ainda sinto o impacto da força do corpo.
O segundo despertar envolveu uma mulher muito mais velha. De acordo com os padrões vigentes, seus quadris eram excessivamente parecidos com peras, seus seios eram ínfimos em comparação, e suas coxas eram totalmente cobertas por finíssimas veias arroxeadas. Uma longa cicatriz de alguma cirurgia grave circundava seu corpo, indo desde a coluna vertebral até as costelas, como um corte para descascar maçãs. Sua cintura devia ter a largura de quatro palmos.
Era, portanto, um mistério o motivo pelo qual os homens zumbiam à sua volta como se ela fosse um favo de mel. Eles queriam morder suas coxas de pêra, lamber aquela cicatriz, segurar aquele peito, descansar o rosto nas teias de suas varizes. Seu sorriso era estonteante; seu caminhar, extremamente belo. E quando ela olhava, seus olhos realmente absorviam o que estavam vendo. Vi novamente o que haviam ensinado a ignorar, o poder no corpo. O poder cultural do corpo é a sua beleza mas o poder no corpo é raro, pois a maioria das mulheres o expulsou com torturas ou com sua vergonha da própria carne.
Tendo em vista o exposto, a mulher selvagem pode pesquisar a numinosidade do seu próprio corpo e compreendê-lo, não como um peso morto que estamos condenadas a carregar por toda a vida, não como uma besta de carga, mimada ou não, que nos carrega por aí a vida inteira, mas como uma série de portas, sonhos e poemas através dos quais podemos obter todo tipo de aprendizagem e conhecimento. Na psique selvagem, compreende-se o corpo como um ser por seus próprios méritos, que nos ama, que depende de nós, para quem, de vez em quando, somos a mãe e que, de vez em quando, representa a mãe para nós".
Mulheres que correm com os lobos – Clarissa Pinkola Estés
Water Twerk
Vídeo
2017
Criação e performance • Dora Selva
Câmera • Pablo Meijueiro